Eu não sei se já te disse, mas eu sei voar. E às vezes eu voo alto... Existe lá em cima um lugar onde eu repouso de mim... e me observo como que duvidando que existo. Nestas horas me vejo atrapalhada tentando administrar os dualismos que coabitam na menina que ainda sou. Certo e errado, razão e emoção, força e fragilidade, ser ou ter, cultivar a matéria ou o espírito, ser una ou múltipla, liberdade e responsabilidade, querer e poder, desejar e fazer... tudo flamejando ao mesmo tempo neste corpo e nesta mente que já não tem nenhum resguardo. Sigo caminhando neste confronto habitual. Poucas pessoas conseguem visualizar a si mesmas assim, de longe, desprendidas de tudo que são e acreditam. Eu saio de mim para melhorar meu esboço, esculpir com traços firmes e bem delineados a obra que sempre será inacabada. E quando volto, mais um dualismo me abate: o que deve seguir comigo e o que deverá apartar-se de mim!
Eu não escrevo porque sou triste ou porque gosto de remoer dor, escrevo porque me falta algo e sempre me faltará...