Não sei como ainda pode existir algo de ti no meu peito, depois dos inúmeros pedaços que já arranquei...embora os tenha removido pouco a pouco, como aquele procedimento bizarro para curar queimaduras extremas (as necroses são retiradas da pele, para que a regeneração ocorra de dentro pra fora). E cada parte que eu tirava à força, era uma tentativa de viver de novo, mesmo me sentindo morta.
Durante todo este tempo, esses pequenos recomeços exigiram de mim muito esforço, porque estavam inclusos em um contexto de uma aparente harmonia. E mesmo com todo meu empenho em virar de vez esta página, você estava ali, mais presente do que eu conseguia admitir até pra mim mesma. Oscilação pura...é que de fato não é tão simples esquecer alguém que te faz interagir com um lado seu, até então, totalmente desconhecido. Provei da fração mais amarga que me constitui, aquela cuja autossuficiência e autocontrole, características que sempre me acompanharam e fizeram de mim a pessoa mais confiante do mundo, foram vistas escorregando e se dissolvendo com facilidade a cada palavra dita, escrita ou pensada.
E é assim, dotada dessa fragilidade que ousou ser parte de mim, que eu digo que cansei. É hora de tirar a nossa história da caixinha, e tirar a caixinha da estante das coisas estimadas e intocáveis, porque foi por tal zelo que ajudei a conservar algo que não mais existe. Não posso mais cuidar desse mundo no qual vivemos por um tempo, mesmo que tudo tenha sido tão especial. Não posso mais agir como se tal mundo fosse paralelo a este que é real, e como se, um dia, a ele eu pudesse retornar. Não aguento mais achar que tenho um amor que na verdade não posso ter e que isso é normal, ou, compreensível. Não quero mais essa certeza de reciprocidade, porque, no fundo, ela não me servirá pra nada. Também não quero estar aqui para um dia saber que essa certeza não tem fundamento algum.
Talvez existam mesmo feridas que não cicatrizam nunca, devem ter alguma utilidade ao longo da vida.
Talvez existam mesmo coisas que não devam ser entendidas, sabe-se lá porque.
Talvez existam mesmo pessoas que só entram em nossas vidas para nos ensinar mais sobre nós mesmos.
Desisti só agora de algo que absteve-se de mim faz tempo...
Sei que ficará eternamente no meu interior essa dor suspensa de saber que há uma saída, sempre houve, mas nós optamos por ficar atrás das nossas portas, por covardia ou pela comodidade de nos sentirmos mais seguros. Por tudo isso preciso sair daqui, urgentemente, hoje, já, e ver o mundo por inteiro, não somente partes da vida entrando por uma fresta...
[Adeus amor, saí, tranquei a porta e joguei a chave fora, pra que não haja mais risco de voltar!]
Kenia, tu me fizeste chorar no corredor do hospital.
ResponderExcluirLi, e, rapidamente me veio em mente minha família, e, os problemas relacionados a ela. Ao passado. Ao que tiraram de mim.
Disse ma vez ue me livrei de algo, e, hoje, certamente, vivo mais levemente.
Escreves muito bem.
Beijos pra ti,
Catherine. Ou Ana.
É amiga... as vezes é preciso fechar a porta. Doloroso, mas necessário!
ResponderExcluirLindas e intensas palavras, como sempre!
Muito bom passar por aqui e ler seus impulsos!
Grande beijo!